sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Ensaio Teológico: Novos Céus e Nova Terra


NOVOS CÉUS E NOVA TERRA
Apocalipse 21.1-5

Por: César Augusto Delgado

O livro de Apocalipse nos leva a olhar para três direções. Para o passado em fé, para o presente em fé e amor e para o futuro em esperança. Para o passado, olhamos para o Cristo que já veio. Ele já pagou o preço de nossa redenção, já alcançou a vitória, já perdoou os nossos pecados. Para o presente, olhamos para o Cristo que está verdadeiramente presente conosco através da Palavra e dos Sacramentos. Nele temos perdão pleno e nova vida todos os dias. Vivemos do Seu amor que nos leva a viver em amor ao próximo.  E para o futuro, olhamos para o Cristo que virá com o propósito de, dentre outros eventos, criar novos céus e nova terra onde habitará justiça plena.

O Já e o Ainda Não

Pela graça de Deus cremos no Salvador que já veio. Confiamos no Cristo que cumpriu a Lei, sofreu, morreu e ressuscitou em nosso lugar. Já temos a salvação em Jesus Cristo. Será que temos ainda coisas para esperar do Senhor? Sim, sem dúvida. Mas, não é suficiente olhar para obra de Cristo e receber no presente Seu perdão nos meios da graça? Se temos fé, precisamos de esperança?
Como cristãos vivemos o já e o ainda não. Já somos santos pela justiça de Cristo, mas também continuamos pecadores. Somos novas criaturas em Cristo (2 Co 5.17), mas ainda também somos velhas criaturas (Rm 7). Há uma tensão constante em nossas vidas entre a nova e a velha criatura. No Batismo ressuscitamos espiritualmente e vivemos a vida celestial, mas há também o ainda não; ainda esperamos a volta de Jesus, a ressurreição do corpo e a vida eterna. Já vivemos nesse mundo a vida com Deus, mas ainda há sofrimentos, dúvidas, incertezas e medo. Ainda somos pecadores, sentimos os efeitos do pecado e sofremos com eles.
Desde já temos e vivemos as bênçãos do reino de Deus em Jesus: perdão, vida e salvação. Mas ainda temos pecado? Há ainda doença e morte? O Evangelho olha para a frente e proclama esperança. Tudo está feito, mas ainda há mais por vir! Cristo completou Sua obra com Sua morte e ressurreição, e por meio dessa obra garantiu e selou grandes e maravilhosas dádivas que fará no futuro.
Infelizmente, corriqueiramente nos esquecemos do futuro eterno que temos em Cristo. Focamos apenas no presente e no futuro que almejamos para nossa realidade neste mundo. Neutralizamos nossos sentimentos. Tapamos nossos ouvidos para os gemidos de tristeza e sofrimento. Fechamos nossos olhos para o sofrimento escancarado.
Porém, para que não esqueçamos totalmente, há uma realidade objetiva: o mundo a nossa volta assusta. Por todos os lados há os gemidos de tristeza e o sofrimento está como uma ferida aberta. A fome continua sendo uma triste realidade em nosso país (como em vários outros países) e pessoas estão realmente morrendo de fome. Por todo o mundo há fome, desemprego, doença e morte. No Oriente Médio e na África radicais continuam a trazer a violência e desespero. No Brasil, o desemprego, as drogas e a miséria estão bem perto de nós. O número de mortes de bebês, por abortos provocados e criminais, é imenso. Vivemos num mundo que precisa de esperança, em uma criação que é incapaz de manifestar plenamente a paz de Deus.
 O apóstolo Paulo resume tudo isso desta forma: “Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós. A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora. E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo. Porque, na esperança, fomos salvos. Ora, esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera? ” Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos. ” (Rm 8.18-25).
Paulo afirma que gememos em nosso íntimo esperando a redenção final, a vida na eternidade. E nos aconselha a esperar com paciência. O mesmo apóstolo também afirma que “se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens” (1 Co 15.19). Pois Cristo conquistou e promete mais para nós. Alegrias eternas, sem fim. Mas quando será isso? Justamente para esperarmos com paciência, a Escritura não nos diz a data. O que sabemos é que isso se dará, de forma definitiva, quando Cristo retornar no último dia. Na Sua vinda, Ele criará novos céus e nova terra (Is 65.17; 66.22; 2 Pe 3.13; Ap 21.1).

Fim do Mundo

No entanto, para que haja novos céus e novo terra é preciso que os atuais céus e terra cheguem ao fim. Por isso, no Dia do Senhor, na vinda do Senhor Jesus, haverá o fim do mundo (2 Pe 3.6, 10-12). Toda a criação de Deus estará envolvida nesse evento. É a consumação de todo o Universo criado por Deus. Todas as criaturas (com exceção dos anjos e dos seres humanos) serão destruídas por fogo, como afirma o texto 2 Pedro 3.
A sequência dos eventos no Dia do Senhor será a seguinte: O Senhor Jesus descerá visivelmente do céu; todos os mortos ressuscitarão e os cristãos vivos serão transformados; em seguida, todos serão arrebatados para as nuvens e se encontrarão com o Senhor nos ares, para serem julgados (1 Ts 4. 15-17); ao mesmo tempo, o mundo será destruído (KOEHLER, 2002, p. 219). Após esses eventos serão criados “novos céus e nova terra”.
“A respeito do fim do mundo, duas explicações têm sido sugeridas por teólogos para tratar da forma como este acontecerá, ou por “niilização” ou por “transformação” (LINDEN, 2013, p. 120). Os que defendem a niilização afirmam que, assim como no princípio o mundo foi criado do nada, será reduzido a nada no fim. Entendem que toda a estrutura e substância do céu, da terra e das coisas criadas serão reduzidas a nada por meio do fogo. Se apoiam em textos como Lucas 21.33, Hebreus 1.11, Mateus 24.3, Isaías 65.17.
Não é impossível que a aniquilação total aconteça e que, do nada, Deus crie um mundo novo. Todavia, os textos citados a favor da niilização não são convincentes. “Pois em nenhum lugar os verbos gregos dos textos que são traduzidos por passar, perecer, mudar-se e consumar são usados, nos seus primeiros sentidos, como sinônimos de reduzir a nada, destruir ou aniquilar” (HEIMANN, 1970, p. 21). Pois “criar” não quer dizer apenas fazer algo a partir do nada. Deus criou o homem (Gn 1.27), mas o homem foi feito do pó da terra (Gn 2.7). O verbo “perecer” também não prova que haverá niilização de toda substância, pois o primeiro mundo pereceu em água (2 Pe 3.6), mas sua substância não foi reduzida ao nada; mesmo que, sem dúvidas, tenham sido radicalmente mudadas na aparência, forma e condição (KOEHLER, 2002, p. 219). Os verbos no grego parecem indicar uma renovação e transformação e não aniquilamento total.
Os que defendem a renovação ou transformação (como o presente autor deste ensaio) sustentam que a “aparência” do mundo presente certamente será destruída pelo fogo, mas não sua substância fundamental. Dessa substância, que permanecerá, serão formados novos céus e nova terra. E isso da mesma forma como do pó e das partículas espalhadas dos corpos dos mortos surgirão novos corpos na ressurreição. No fim do mundo, a forma, o tamanho, a condição e a aparência do presente Universo passará por mudança (1 Co 7.31), mas sobrará uma substância que servirá de matéria-prima para a formação dos novos céus e nova terra.
Há bons argumentos exegéticos para ambos os lados, embora pendam mais para a renovação ou transformação. Nenhum teólogo é herege por ensinar uma maneira ou a outra.
“O Novo Testamento não deixa dúvidas de que o atual Universo não continuará eternamente como se encontra hoje” (LINDEN, 2013, p. 120). E a Escritura, como um todo, nos faz a promessa certa de uma criação nova, que no texto de Apocalipse 21 e em outros textos é chamada de novos céus e nova terra. Pois o nosso Deus não desistiu da Sua criação.

Novos Céus e Nova Terra

O primeiro escritor bíblico a descrever os novos céus e a nova terra é o profeta Isaías. Em Isaías, Deus promete: "Eis que crio novos céus e nova terra; e não haverá lembrança das coisas passadas, jamais haverá memória delas; e nunca mais se ouvirá nela nem voz de choro nem clamor" (Is 65.17). Em Isaías está a primeira promessa, a primeira profecia explícita que Deus mesmo faz sobre o novo céu e a nova terra.
No Novo Testamento, Pedro afirma a esperança cristã por “novos céus e nova terra onde habita justiça” (2 Pe 3.13). No livro de Apocalipse, capítulos 21 e 22, João faz uma descrição bem mais completa do que os outros escritores, porque ele, numa revelação toda especial de Deus, pode "ver as coisas que em breve devem acontecer" (Ap 1.1).
Para tornar mais ou menos compreensível aquilo que será o novo mundo, o apóstolo emprega muitos símbolos e figuras de linguagem, como: o tabernáculo de Deus, a cidade santa e o paraíso restaurado. Assim, numa linguagem figurada, o apóstolo descreve os novos céus e a nova terra: "Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram e o mar já não existe. Então ouvi grande voz do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens, Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus e Deus mesmo estará com eles" (Ap 21. 1-3).
Sobre as características do mundo novo a Escritura, no seu todo, indica que no novo mundo existirá uma continuidade e uma descontinuidade com a atual criação.
A continuidade entre a nova criação e a presente pode bem ser sugerida pelos termos gregos usados para "novo". “A palavra traduzida por "novo" (kainós) em 2 Pe 3.13 e Ap 21.1 normalmente significa novo em natureza ou em qualidade, em contraste com outra palavra grega (neós), que normalmente designa aquilo que é novo em tempo ou origem” (BEHM, p. 447-50).
Isaías descreve os novos céus e nova terra como um mundo novo, com vinhas e harmonia perfeita mesmo no reino animal (65.17-25; cf. 11.6-9). Joel e Amós descrevem como uma terra rica, que destila vinho e leite (Jl 3.18; Am 9.13,14). Ezequiel a retrata como uma terra vivificada com água viva (47.1-12).
João fala dela em termos de um novo jardim do Éden (Ap 22.1-4) e como uma nova Jerusalém, feita de preciosas pérolas (Ap 21.10-27; cf. Is 52.1; Ez 40-48). Todas estas descrições são, obviamente, escritas em linguagem poética e figurada, cujos detalhes não deveriam ser interpretados de uma forma literal. Entretanto, Paulo em Romanos 8 deixa claro que a nova criação será, de uma certa forma, semelhante à presente criação. Não devemos nos sentir embaraçados pela descrição aparentemente "terrena" feita pela Escritura, nem devemos tentar transcender sua descrição com base na razão humana ou numa "espiritualização" que despreza o fato de sermos criaturas. Somos criaturas hoje e, no novo mundo, continuaremos a ser criaturas. Os novos céus e nova terra serão um lugar criado, um lugar físico.
Todavia, como vimos nos pontos sobre o fim do mundo, existirão também elementos de descontinuidade entre o mundo que conhecemos e o mundo futuro. Os presentes céus e terra "passarão" (Mt 5.18; 24.35; Mc 13.31; Lc 16.17; 21.33; Ap 20.11; 21.1). Eles envelhecerão e serão enrolados como um manto (Hb 1.10-12; Sl 102.26-28) e estão sendo agora reservados para o fogo (2 Pe 3.7). Os corpos celestes (sol, lua, estrelas) serão dissolvidos pelo fogo (2 Pe 3.10). Os céus serão enrolados como um pergaminho (Is 34.4; Ap 6.14). As montanhas e as ilhas serão removidas (Ap 6.14; 16.20). A terra ficará desolada e será consumida (Sf 1.18). "A terra e as obras que nela existem serão atingidas" (2 Pe 3.10).
            A nova criação consistirá numa nova ordem de coisas. O dia será contínuo, sem noite, nem sol, nem lua, já que Deus e o Cordeiro serão a luz e a lâmpada (Ap 21.23; 22.5; Zc 14.6,7; Is 60.19-20). Ordenações como o casamento e o governo cessarão (Mt 22.30; Mc 12.25; Lc 20.34,35; 1 Co 6.1-11).
            Para não se pensar (erroneamente) em dois lugares diferentes, os novos céus num lugar  e uma nova terra em outro, é necessário perceber a ênfase do texto de Apocalipse 21. Ele enfatiza que céus e terra serão unidos em harmonia, como o lugar da presença de Deus. Este é o ponto de Ap 3.12 e 21.2,3, que descreve a Jerusalém celeste descendo. No novo mundo criado por Deus (novos céus e nova terra) estaremos em perfeito relacionamento com Deus, vendo-o como Ele é (1 Jo 3.2). (CTRE, Os Tempos do Fim, p. 34-5)
            No novo céu e nova terra, teremos a presença definitiva e eterna de Deus conosco. E isso significa que “as primeiras coisas passaram” (Ap 21.4). Essas “primeiras coisas” são uma referência a tudo aquilo que está ligado à triste realidade que o pecado causou na primeira criação de Deus. Isso agora deixa de existir, dando lugar à nova criação de Deus. A presença de Deus plenamente com Seu povo significa a negação de tudo o que caracterizava negativamente a vida passada. Todo o mal deixa de existir, pois o mal não pode conviver com a presença imediata de Deus. O propósito da primeira criação será plenamente realizado. Não haverá nenhuma possibilidade de queda. Todas as coisas serão novas (Ap 21.5), eternamente novas, sem jamais se tornarem corruptas ou corruptíveis. (LINDEN, 2016, p. 208).
Nas primeiras páginas da Bíblia encontramos um paraíso perfeito, no qual os seres humanos viviam com Deus em felicidade. Nas últimas páginas da Bíblia reencontramos novamente o paraíso perfeito, no qual Deus, depois de uma transformação total, colocará todos os redimidos.
No paraíso restaurado, seremos as mesmas pessoas que somos agora (não perderemos nossa identidade) todavia sem pecado e com um corpo glorioso (Fp 3.21). Lá iremos reencontrar nossos familiares e todos os nossos queridos (Mt 17.3-4; Lc 16.19-31; 20.37-38). Estaremos para sempre com o Senhor, sem sofrimento, sem morte, sem lágrimas, nem dor, nem doenças e nem fome (Ap 21.4). Tudo será pleno e perfeito.

A Esperança que nos Consola e Move

O livro de Apocalipse, em vários quadros, nos mostra as grandes tribulações e perseguições que sofremos no mundo. Todavia, deixa claro que em Cristo já temos a vitória e que Deus nos susterá e guardará para si. Não deixa dúvidas de que a vitória é do Cordeiro e de Sua Igreja. O livro, no seu final, como que com chave de ouro, nos mostra a concretização do reino de Deus, do reinar de Deus com seu povo sem pecado e morte no novo mundo, trazendo grande certeza e consolo.
Era com esta certeza e esperança que Jesus consolava os Seus discípulos, quando estavam tristes e desanimados. Dizia ele: "Não fiquem tristes e preocupados... eu vou preparar um lugar para vocês. E depois, quando eu preparar um lugar para vocês, voltarei e os levarei comigo, para que onde eu estiver, estejam vocês também" (João 14.1-3).
A certeza e a esperança de um dia estarmos nos novos céus e nova terra, ao lado do Salvador Jesus, é uma fonte de constante consolo e força para enfrentarmos as dificuldades da vida e vivermos a fé ativa no amor aqui neste mundo.  
E o “ingresso” para os novos céus e nova terra é um só: Cristo, Sua obra redentora por nós, Sua justiça que cobre todos os nossos pecados (Jo 14.6; Ap 22.14). Na fé em Cristo estamos salvos, aguardando a redenção final.
 Por isso, feliz é a pessoa que tem esse Cristo, essa esperança, que consegue olhar para além deste mundo que sofre com o pecado e sofrimento e ver a eternidade, onde nos aguarda um novo mundo, cheio de alegria, de paz e felicidade.
Enquanto esperamos, continuamos vivendo a vida que Deus nos deu em gratidão, alegria, amor e testemunho do Evangelho. Cobertos com o perdão de Cristo e com os corações ansiosos para ver Jesus definitivamente. Amém! Vem Senhor Jesus!

Referências
BEHM, Johannes. “Kainos”. Theological Dictionary of the New Testament. Ed. Gerhard Kittel. Grand Rapids: Eerdmans, 1989.
BÍBLIA SAGRADA. Almeida Revista e Atualizada, 2ª ed. 1988, 1993 – Sociedade Bíblica do Brasil.
CTRE – LCMS. Os Tempos do Fim: Um estudo sobre Escatologia e Milenarismo.2ª edição. Tradução de Gerson L. Linden. Porto Alegre: Concórdia, 2012.
HEIMANN, Leopoldo. Novos Céus e Nova Terra. In: Revista Igreja Luterana, 31, 1970.
KOEHLER, Edward W.A. Sumário da doutrina cristã. Porto Alegre: Concórdia, 2002,
LINDEN, Gerson Luis. Estudos no livro de Apocalipse. Canoas: Ed. ULBRA, 2016.
LINDEN, Gerson Luis. Teologia sistemática IV – tópicos em teologia escatológica. Canoas: Ed. ULBRA, 2013.


sábado, 9 de julho de 2016

MONOGRAFIA: ARTIGO XII DA CONFISSÃO DE AUGSBURGO E APOLOGIA: O ARREPENDIMENTO É OBRA DE DEUS ATRAVÉS DE LEI E EVANGELHO.

INTRODUÇÃO

       O arrependimento é uma importante doutrina do Cristianismo. No entanto, houve uma época em que ele foi considerado uma obra realizada em parte por Deus e em parte pelo ser humano. Nessa época, a graça de Deus em Cristo e o recebimento do perdão pela fé foram deixados de lado e os méritos humanos foram colocados no lugar. Não se ensinava que o arrependimento é obra exclusiva de Deus por meio de Lei e Evangelho. Com isso, não havia consolo para os pecadores. Porém, a partir da Reforma, século XVI, novamente o arrependimento passa a ser ensinado claramente de acordo com as Escrituras.
     O presente trabalho tem por finalidade mostrar o desenvolvimento do conceito de arrependimento dentro da teologia cristã, os vários ensinos sobre ele na idade escolástica e por fim o pensamento bíblico, claro e cristocêntrico dos teólogos de Wittenberg exposto na Confissão de Augsburgo e sua Apologia.
        No primeiro capítulo será abordado o desenvolvimento do conceito de arrependimento na escolástica, sua transformação para uma ação antropocêntrica e eclesiocêntrica, sua elevação a sacramento na baixa escolástica e sua definição na alta escolástica. No segundo capítulo o trabalho trará os fatos desencadeadores da Reforma, o texto do artigo XII da Confissão de Augsburgo e sua conexão com os outros artigos da mesma. O terceiro capítulo tratará da Apologia da Confissão de Augsburgo, seus argumentos e suas bases conectadas ao pensamento e aos escritos de Lutero.

  
1 A CONFUSÃO DO PENSAMENTO MEDIEVAL SOBRE O ARREPENDIMENTO


1.1 Processo Antropocêntrico e Eclesiocêntrico

      A partir do século III o arrependimento, ou penitência[1], começou a tornar-se algo totalmente humano (antropocêntrico) e mediado pela estrutura da igreja (eclesiocêntrico).[2] A graça de Deus em Cristo e o recebimento do perdão pela fé começaram a ser deixados de lado e os méritos humanos foram colocados no lugar. A condição de pecador foi esquecida e os atos pecaminosos foram supervalorizados. A Igreja começou a oferecer vários meios para ajudar àquele que buscava méritos. Agostinho (354-430), grande teólogo da igreja antiga, foi uma das poucas exceções a esse ensino. Ele ensinava e enfatizava a total depravação do ser humano e que a salvação é obra do próprio Deus, tão somente através da graça de Deus em Cristo que opera a salvação do ser humano.[3] Todavia, como ficará evidente adiante, com o passar dos séculos, o arrependimento, considerado uma obra humana submetida à hierarquia e supervisão da igreja, ganhou cada vez mais espaço e universalização no ensino oficial da Igreja Cristã Ocidental.
      Um período fértil para o desenvolvimento do conceito de penitência foi a escolástica. Ela refere-se à teologia que tomou forma nas universidades ocidentais e que fazia forte uso do método filosófico. A escolástica iniciou-se em meados do século XI, alcançou seu auge no século XIII, e deteriorou-se na Baixa Idade Média, sendo finalmente destruída pelo humanismo e pela Reforma.[4]
      Em seu auge, a escolástica recebeu forte influência da filosofia de Aristóteles. O método aristotélico contribuiu significativamente para o desenvolvimento doutrinário da escolástica. Em todo o campo da teologia as premissas aristotélicas gradualmente passaram a ser usadas - apesar da oposição de algumas autoridades eclesiásticas. Os teólogos descobriram, sobretudo na metafisica e ética de Aristóteles, vários pontos de vista e definições que podiam ser úteis à sua abordagem cientifica a questões doutrinárias. Este novo elemento filosófico criou nova atitude cientifica no campo da teologia, e isto por sua vez muito contribuiu para preparar o caminho à majestosa síntese de teologia e filosofia, de fé e razão que se manifestou nos sistemas teológicos dos séculos XIII.[5] Com isso, houve uma síntese entre o pensamento não-cristão com o pensamento cristão. Elementos não-cristãos vindos do filósofo pagão tomaram conta da teologia, influenciando a antropologia e a soteriologia, causando grandes estragos[6] como ficará claro no decorrer deste trabalho.
     Para um melhor entendimento do conceito de arrependimento na escolástica é importante compreender o sistema soteriológico ensinado nesse período. Pois os dois estão intimamente ligados. No entanto, não é fácil assimilar à soteriologia desse período. Havia várias escolas teológicas com visões diferentes, até opostas.
        De forma mais difundida, ensinava-se que a graça é, em parte, a vontade eterna e amorosa de Deus, ou graça incriada (gratia increata), e também aquela graça que vem ao homem como dádiva e, dessa forma, prepara o caminho para a salvação humana, ou graça criada (gratia creata). Esta consiste, especialmente, na assim chamada graça infusa, que realiza a justificação e produz boas obras. Essa gratia creata inclui também tudo aquilo que Deus dá ao ser humano gratuitamente e que o preparam para a salvação.[7]
            Segundo Hägglund, nessa época se ensinava que:

Alguns elementos preparatórios para a salvação podem ser encontrados mesmo no homem natural. Entre os pagãos, por exemplo, há certo desejo de conhecimento sobre Deus; na razão e na vontade do homem há certa propensão para decidir fazer o bem e realizá-lo. Mas acima de tudo, a gratia gratis data refere-se ao que especificamente prepara o caminho para o recebimento da graça mais elevada: a fé embrionária (fides informis), arrependimento preliminar, que resulta do temor a punição (attritio), forma inferior de temor (timor servilis) e esperança indefinida (spes informis). O chamado que vem através da Palavra (vocatio) tem também aí seu lugar.[8]

            Hägglund segue explicando que:

A proclamação da Palavra, ou evangelho ocupa lugar relativamente obscuro no plano da salvação. Apenas providencia o conhecimento necessário para se receber a graça sacramental, e com ela a justificação. A ênfase principal recai sobre os sacramentos. A Palavra tem certo caráter legalista, que nos diz o que crer e fazer. O evangelho é apresentado como nova lei (nova lex), que não apenas ordena, mas também confere o poder necessário para se poder cumprir com seus mandamentos. Mas esse poder não é fornecido pela própria Palavra; vem através dos sacramentos instituídos por Cristo.[9]

            O que o ser humano, de acordo com a gratia gratis data, na ordem natural, deve fazer por sua própria força (facere quod in se est) para estar preparado para receber a graça? As formas inferiores de fé e arrependimento que são possiveis nesta etapa não são em si suficientes para justificar o ser humano. Porém, constituem um meritum de congruo. Mérito de côngruo é um mérito que surge quando o livre-arbítrio se decide a agir em congruência com a primeira graça universal (prima gratia). Deus não seria obrigado a recompensar este mérito, mas o faria por liberalidade. A recompensa que esse mérito traz é a graça verdadeira (gratia infusa) que seria recebida pelos sacramentos através da igreja e que produziria o estado da graça através do mérito de condigno (meritum de condigno). A esses méritos Deus estaria obrigado a recompensar produzindo uma justificação progressiva. Esse segundo modo afirma que a justificação ocorre através de determinado hábito infuso por Deus (gratia infusa), hábito esse que é o amor. Com essa graça infusa, o ser humano é capaz de cumprir a lei de Deus interior e exteriormente. Esse cumprimento da lei é imaginado como digno da graça e da vida eterna.[10]
            Desse modo, fica evidente que a salvação para esse período é uma obra divina e humana, onde o ser humano coopera ativamente. E em decorrência, a penitência também é, como será mostrado adiante.

1.2 Penitência na Baixa Escolástica

            A penitência na baixa escolástica (séc. XI e XII) implicava em contrittio cordis, confessio oris e satisfactio operis. A contrição era sempre ressaltada, mas a confissão perante um sacerdote também se tornou necessária. O ato público de reconciliação, que era comum na Igreja Antiga, foi substituído no confessionário pela absolvição sacerdotal, que era dada mesmo antes de se completarem as satisfações.[11]
            Nessa época, a exigência de se fazer satisfação e de fazer penitência era rigorosamente imposta. Podia-se fazer penitência dando esmolas, jejuando, peregrinando, autoflagelando-se ou entrando em um mosteiro. As formas mais severas de obrigações, em muitos casos, podiam ser substituídas por outras penalidades mais brandas ou breves, porém mais intensivas. A isso se dava o nome de redemptio.[12]
            A distinção entre castigo temporal e eterno surgiu fortemente nesse período. As penas temporais satisfazem a ofensa do pecador, capacitam a fugir dos pecados futuros e são os frutos arrependimento. O sacerdote determina a satisfação. O que não for adequado, nesta vida, será completa no purgatório.[13]
             Porém, a Igreja, em virtude dos méritos supérfluos de Cristo e dos santos, podia conceder indulgências. Uma indulgência é perdão para as penas temporais. A culpa (eterna) diante de Deus é perdoada pelo arrependimento e confissão, mas os atos deveriam ser pagos.[14]
            A teologia escolástica dividia a contrição em perfeita (contrittio) e imperfeita (attritio). Contrittio designava a perfeita contrição que se origina na tristeza pelo o pecado e é apoiada pela vontade de não pecar mais, ao contrário de attritio, contrição nascida do medo.[15] A attritio, também chamada timor servilis, é considerada contrição imperfeita visto nascer ou da consideração da torpeza do pecado ou do medo do inferno e das penas. A contrittio é contrição perfeita, arrependimento pleno, visto ser uma dor profunda de ter ofendido a Deus e que tem sua raiz no amor de Deus.[16]
            Entretanto, não havia unanimidade sobre quando “acontecia” o perdão. Pedro Abelardo (1079-1142), por exemplo, considerava a absolvição sacerdotal uma mera confirmação do perdão já alcançado pela contrição perfeita do penitente.[17]
            A penitência tornou-se um sacramento no século 12, com Pedro Lombardo.[18] Porém, somente no IV Concílio de Latrão, em 1215, é que foi reconhecida como tal. O Concílio decretou que a penitência era um sacramento obrigatório e deveria ser realizado uma vez por ano pelo menos. Era considerada necessária para a salvação e se exigia a enumeração de todos os pecados. A penitência exigia do pecador a contrittio cordis, confessio oris e satisfactio operis, ou seja, a confissão diante de um sacerdote se tornou necessária.[19]

1.3 Penitência na Alta Escolástica
            Na alta escolástica, Tomás de Aquino (1225-1274) clarificou o sacramento da penitência, definindo sua “matéria” como contrição, confissão e satisfação por parte do penitente, e sua “forma" como a absolvição dada pelo ministro. Para ele, a tristeza, ou atrição (attritio) imperfeita produzida pelo medo da punição divina era preparação suficiente para a recepção do sacramento. Porém, no curso da confissão, a atrição se tornava contrição perfeita.[20]
            Para Tomás, os sacramentos são comunicações da graça de Deus que está fisicamente incluída neles. A graça de Deus outorga de maneira invisível, acreditando que a ação sacramental é eficiente por si mesma, independentemente da fé nas palavras da promessa. Esta concepção é conhecida com ex opere operato.[21]
            Aquino ensinava que a penitência era um avanço na vida espiritual que começava no batismo e nutria-se na Ceia, já que a penitência remove a enfermidade do pecado. Isso parte da mentalidade latina medieval de que pecados são atos e não um estado.[22] Ele também concebia as indulgências como provenientes dos méritos superabundantes de Cristo e dos santos constituem um tesouro de boas obras, parte do qual pode ser transferida para o pecador necessitado mediante a autoridade da igreja na pessoa do papa. Este pode, se desejar, partilhar sua autoridade com os bispos. As indulgências eram, segundo Aquino, uma remissão das penas temporais corretamente devidas por causa de pecados já cometidos, arrependidos e perdoados. Os fiéis comuns, entretanto, raramente traçavam a cuidadosa distinção teológica entre remissão de penas temporais e perdão de pecados.[23]
            Duns Escoto (1266-1308) ensinou, contestando Pedro Abelardo, que a absolvição sacramental é o elemento propriamente operativo no sacramento. Para ele o perdão se dava na absolvição e não na contrição perfeita como ensinou Pedro Lombardo.[24]
            Guilherme de Ockham (1285-1349), fundador do ocamismo (via moderna, uma volta ao nominalismo) e que viveu na fase final da escolástica, mantinha uma visão antropocêntrica da salvação. Ockham não acreditava que o pecado original realmente existe na natureza humana. Existe apenas o julgamento que Deus pronuncia sobre o ser humano, atribuindo ao mesmo a culpa de Adão; não uma corrupção profunda e verdadeira da natureza humana. Essa sua posição foi influenciada por ideias pelagianas.[25] Para ele e para Gabriel Biel (1420-1495), que sintetizou a tradição ocamista, a vontade do ser humano era livre e podia, se desejasse, cumprir os mandamentos de Deus ao pé da letra. Este cumprimento, é verdade, não era suficiente para a salvação. Para isso a graça divina era essencial. Mas, mesmo com essa graça, a salvação era inatingível sem obras meritórias. A graça tornava às obras meritórias em si mesmas. Pois, se o ser humano praticasse o que o que está dentro de si (facere quod in se est), ele poderia de qualquer maneira receber o mérito de côngruo (meritum de congruo). E por esse mérito o ser humano adquiria a graça (gratia gratum faciens) para realizar obras meritórias propriamente ditas (meritum de condigno) e assim tornar-se digno de reivindicar a vida eterna.[26]
            Ockham e Biel sustentavam que as pessoas podiam chegar à contrição por seus esforços próprios (facere quod in se est) e que Deus responde na absolvição com o perdão dos pecados.[27] O ocamismo influenciou várias universidades alemãs, dentre elas a de Erfurt.
           
2 ARREPENDIMENTO: A VOLTA À ESCRITURA. UM NOVO CONTEXTO NA REFORMA LUTERANA

2.1 Os Fatos Desencadeadores da Reforma

            Como exposto, o conceito de arrependimento estava totalmente deturpado. O ensino era confuso e complexo. Não havia unanimidade entre os teólogos sobre a doutrina do arrependimento e nenhum deles conseguia explicar satisfatoriamente essa doutrina. O ser humano era totalmente ativo no processo. Com isso não havia firme consolo para as consciências. Filipe Melanchthon define bem a confusão do pensamento medieval sobre o arrependimento:

Toda a criatura honesta, qualquer que seja sua classe, incluída a dos teólogos, sem dúvida confessa que antes dos escritos de Lutero era confusíssima a doutrina do arrependimento. Estão aí os livros dos sentenciários, nos quais há número infinito de questões que teólogo algum jamais pôde explicar satisfatoriamente. O povo não pôde entender a suma da coisa, nem ver o que principalmente se requeria no arrependimento, onde se devia procurar a paz da consciência. Apresente-se-nos alguém [...] que nos diga quando é que se dá a remissão dos pecados. Santo Deus, que trevas! Duvidam sobre se a remissão dos pecados acontece na atrição ou na contrição.[28]

            Nesse período confuso e difícil, nasce Martinho Lutero (1483). Antes de encontrar, por graça, o consolo do Evangelho, Lutero mostrou-se extremamente preocupado com sua salvação. Conhecendo as ideias do ocamismo, altamente difundidas na época, Lutero entrou, em 1505, no mosteiro agostiniano eremita de Erfurt, a fim de fazer tudo o que estava ao seu alcance, com o propósito de encontrar um Deus gracioso. Porém, nada disso o satisfazia. Pelo contrário, Lutero estava cada vez mais consciente da concupiscentia, do seu pecado e do seu amor-próprio. Isso trazia grande dúvida e ansiedade para ele.[29]
            O remédio “infalível” da Igreja de Roma, o sacramento da penitência, não oferecia ajuda alguma para Lutero. Ele não acreditava que sua atrição podia tornar-se contrição perfeita. Sentia que falhava em ter a contrição que Deus exigia e que ele deveria ser capaz de obter.[30] Nem o meio fácil ensinado pela igreja para obter-se perdão, as indulgências, o satisfaziam ou traziam sossego para sua alma.
            Durante suas leituras nos Salmos para suas preleções (1513-1518) foi que Lutero, por graça, teve a “experiência da torre”, na qual percebeu o significado da “justiça de Deus através da fé em Cristo” do texto de Paulo. Através dessa descoberta Lutero chegou à conclusão de que a fonte do estudo teológico não é a teologia escolástica e sim a Escritura Sagrada. E ela ensina que a salvação é obra de Deus em Cristo. O ser humano não merece e não conquista a salvação, apenas a recebe. A partir disso, tudo o que não estivesse ancorado e embasado na Escritura e que não partisse e enfatizasse a justificação, deveria ser rejeitado e condenado. A partir da Reforma, no lugar da autoridade da estrutura eclesiástica, entra a autoridade das Escrituras. Sai o ministério eclesiástico estruturado no sentido de ter a última palavra em questões de fé e vida e entra a Bíblia como Palavra de Deus viva ao ser anunciada ao pecador. Sai a psicologia do arrependimento como base em um exercício antropocêntrico e entra a retórica que anuncia e concede perdão dos pecados através do anúncio da Palavra de Deus, entra a Teologia.[31] Por isso, o arrependimento como obra humana e os abusos das indulgências, por não terem base na Palavra, podem ser definidos como “eventos” desencadeadores da Reforma. Eles, como ensinos falsos e centrados no ser humano, não traziam consolo para o povo. Ofuscavam e negavam a justificação pela fé em Cristo. Dessa forma, “a questão da penitência e do arrependimento torna-se o centro da controvérsia das indulgências e o que desencadeou a Reforma”.[32]
            Lutero, em seus escritos de 1520, critica o fato de que a promessa contida na absolvição havia sido deixada de lado e que, em seu lugar, enfatizava-se as obras humanas da contrição, confissão e satisfação.[33] Em 1528, Ele afirma que a verdadeira penitência consiste em sentir sincero arrependimento e pesar pelos pecados e temer a ira e o juízo de Deus. Isso é arrependimento e reconhecimento do pecado. A segunda parte do arrependimento é crer que os pecados estão perdoados por causa de Cristo. Esta fé irá produzir bons frutos, resultados do perdão dos pecados.[34]
           
2.2 O Texto do Artigo XII da CA e Suas Bases
            A Confissão de Augsburgo foi preparada para ser apresentada ao imperador Carlos V, em uma Dieta convocada em 1530. A Reforma havia dividido a Alemanha e o imperador precisava de unidade no Império para rebater a invasão turca que avançava na Europa. Por isso, em 21 de janeiro de 1530, Carlos V convocou à Dieta de Augsburgo que foi marcada para se reunir a partir de 08 de abril de 1530. O objetivo dessa Dieta era superar divisões, cessar hostilidade, vencer erros do passado e procurar ouvir com amor e gentileza as opiniões dos luteranos e dos católicos, a fim de manter uma única e verdadeira religião, comunhão e unidade.[35]
            Dessa maneira, os luteranos deveriam preparar um documento que representasse o pensamento de Wittenberg.  Prunzel[36] explica bem a produção da Confissão de Augsburgo e suas bases:

Os luteranos reuniram-se em Torgau, em 27 de março de 1530 e como resultado produziram os Artigos de Torgau. Melanchthon os redigiu. Nesses artigos, os luteranos propunham questões da praxe da igreja. Quanto aos aspectos doutrinários, havia um outro documento, os Artigos de Schawabach, escritos em 1529, que foram considerados base de confissão de fé. Esses artigos já tinham sido testados no Colóquio de Marburgo, pois Lutero os usara para produzir os Artigos de Marburgo na discussão da Santa Ceia com Zwínglio e outros reformadores. Esses são documentos básicos para a composição da Confissão de Augsburgo. Contudo, temos outros que precisam ser somados. A Instrução aos Visitadores, escrita por Melanchthon, também é uma fonte de trabalho na composição final do texto. Escritos de Lutero também aparecem. Os Catecismos de 1529 estão bem presentes nas discussões. Eles mostram o caráter pastoral da Teologia, preocupação maior dos reformadores de Wittenberg.

            A preocupação dos reformadores era com o povo, com as consciências tímidas e atemorizadas. A gratuita salvação estava sendo negada ao povo. Com o artigo XII, os confessores mostram que Deus, por meio de Lei e Evangelho, opera no homem e o leva a contrição e ao recebimento, pela fé, do perdão/absolvição por causa da obra de Cristo. O texto integral do artigo XII assim reza:

Do arrependimento se ensina que os que pecaram depois do batismo, recebem perdão dos pecados a qualquer tempo em que cheguem ao arrependimento, não lhes devendo a igreja negar a absolvição. Agora, arrependimento verdadeiro, autêntico, propriamente outra coisa não é que sentir contrição e pesar ou terror por causa do pecado e, todavia, crer ao mesmo tempo no evangelho e na absolvição, isto é, crer que o pecado foi perdoado e que por Cristo foi obtida a graça, fé essa que volta a consolar e serenar o coração. Deve seguir-se a melhora de vida e o abandono do pecado; pois esses devem ser os frutos do arrependimento, como diz João Mt 3: “Produzi, pois, fruto digno do arrependimento. Aqui se rejeitam os que ensinam não poderem voltar a cair aqueles que já uma vez se tornaram piedosos. Condenam-se também os novacianos, que negavam a absolvição aos que haviam pecado depois do Batismo.[37]

            O arrependimento não é, de maneira nenhuma, um processo que ocorre no homem, como ensinava a teologia romana, mas é, como destaca Melanchthon, a ação de Lei e Evangelho nas mãos de Deus. Para Melanchthon: Primeiro a absolvição, perdão proclamado em virtude da obra de Cristo. Segundo, a graça, o perdão do pecado. Terceiro, a fé, que dá garantias do perdão recebido.[38]
            O artigo destaca muito bem que o perdão/absolvição dos pecados está disponível para todos. Ele não precisa ser conquistado por nenhum ser humano. Ele foi conquistado por obra de Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. A graça, o perdão dos pecados, foi obtido por Jesus. O ser humano apenas o recebe pela fé. O arrependimento consiste em duas partes, contrição e fé. Pela Lei Deus leva o ser humano à contrição e pelo Evangelho perdoa e consola o coração. É nesta dualidade que há uma resposta, a saber o arrependimento.[39] Na penitência, Deus trabalha através da Lei e do Evangelho e suas promessas somente podem ser recebidas pela fé. A partir desse artigo é possível afirmar que o arrependimento não tem início no homem, é obra de Deus através de sua Palavra. O ponto principal do artigo é a consolação da absolvição contida nele.[40] Pois, em Cristo, todos os pecados estão perdoados.
            A primeira afirmação do artigo coloca os luteranos na linha do cristianismo histórico. Há perdão para os que pecam após o Batismo. O final do artigo condena as seitas (anabatistas/perfeccionistas e os novacianos) que ensinavam de maneira diversa e contrária a Escritura.[41]

2.3 Os Artigos Precedentes ao Artigo XII da CA

            A primeira parte da Confissão de Augsburgo, artigos 1 a 21, repete o Credo Cristão. Nessa primeira parte fica evidente a obra própria de Deus: Salvar o ser humano. Nesses artigos não há nada de novo. É a fé cristã exposta conforme à Escritura. A partir da base universal da fé cristã, artigos 1 a 3, segue-se os artigos 4 a 6 ênfase dos teólogos de Wittenberg. Os demais artigos completam o conteúdo do credo suportados especialmente pelas duas partes anteriores.[42] Melanchthon, ao apresentar a Confissão de Augsburgo, estava preocupado em demonstrar o caráter universal da fé cristã. Os três primeiros artigos não serão novidade para os teólogos de Roma.[43]
            O primeiro artigo é sobre o Deus Triúno. O artigo aponta para o fato de que esse Deus é Pessoal, que se relaciona com sua criação, que é ativo.[44] Assim como a doutrina da Trindade, também é doutrina comum na fé cristã a confissão do pecado original. Este é o segundo artigo da Confissão de Augsburgo. Por meio da doutrina do pecado de origem, o artigo enfatiza que nenhum ser humano pode resolver por si só sua condição perante Deus. Só Cristo pode, porque Ele é único ser humano sem pecado. O pecado original consiste na total incapacidade de temer e confiar em Deus, como requer o Primeiro Mandamento, pois todo ser humano está predisposto por natureza ao pecado. Só Deus pode fazê-lo em nosso favor, através da ação do Espírito Santo no Batismo.[45] O artigo 3 apresenta a Pessoa de Cristo. O Filho de Deus encarnou-se para resolver o problema humano. Ele fez tudo o que era necessário para a salvação do ser humano. Ele aplacou à ira de Deus e conquistou perdão para todos. O problema humano foi resolvido pelo próprio Deus.
            No artigo 4 é demonstrado que o ser humano é justo diante de Deus, pela graça, por causa de Cristo. O homem não é justo por suas obras ou méritos. Mas pela obra de Jesus, realizada fora do ser humano e sem a sua participação. Este é o articulus stantis et cadentis ecclesiae, com ele a igreja permanece, sem ele a igreja cai. Todos os outros artigos da Confissão estão ligados a esse artigo e dependem dele.
            A justiça de Cristo é dada ao ser humano. Ele a recebe pela fé. Essa fé é outorgada por Deus através do ofício da pregação, como esclarece o artigo 5. Pela Palavra anunciada, na Absolvição e pela Palavra nos sacramentos, Batismo e Santa Ceia, o Deus Triúno concede ao homem o dom da fé e a mantém. A partir dela, como expõe o artigo 6, há uma nova vida. A fé produz bons frutos e boas obras. Todavia, como deixa claro o artigo, essas obras não merecem a salvação e o ser humano não deve confiar nelas para isso.
            Os artigos 7 e 8 falam da igreja cristã que é criada por Deus por meio da Palavra e sacramentos. Onde há Palavra e sacramentos Cristo está presente. E onde Cristo está, há crentes, há igreja. O Batismo, no artigo 9, e a Santa Ceia, no artigo 10, são apresentados como sacramentos, marcas da igreja, que trazem e dão ao ser humano à graça conquistada por Jesus Cristo. Os dois artigos estão ligados diretamente ao artigo 4, da justificação pela fé.
            Nos artigos 11 e 12 são tratados os assuntos de Confissão e Absolvição. O enfoque é o Ofício das Chaves, o ofício de absolver os pecados. No artigo 11, da confissão, o interesse não está na enumeração dos pecados, o que é impossível, mas há interesse na confissão por causa da absolvição. É na absolvição que a graça de Deus em Cristo é anunciada.[46] E por meio dela as consciências são consoladas. No arrependimento como obra de Deus, o ser humano sempre tem acesso ao perdão de Deus.

2.4 A Confutação Pontifícia e a Apologia da Confissão

            A leitura da Confissão de Augsburgo ocorreu em 25 de junho 1530. Essa leitura causou reações do lado de Roma. Alguns teólogos católicos queriam que o imperador Carlos V simplesmente silenciasse os luteranos à força. Outros achavam que deveria haver uma refutação formal ao documento luterano. Carlos V aceitou a última proposta. Pediu que um comitê católico preparasse uma refutação à Confissão. E os luteranos deveriam se submeter a essa decisão. Se recusassem, deveriam submeter-se ao Edito de Worms e toda a questão religiosa seria transferida para um concílio.[47]
            João Eck e mais um comitê prepararam uma Confutação ao documento luterano. Em 3 de agosto, no mesmo local onde foi apresentada a Confissão, foi lida a Confutação Pontifícia. Ela foi lida como se fosse a resposta do próprio imperador. Aos luteranos foi negada uma cópia da mesma. No entanto, os luteranos, durante a leitura da Confutação foram tomando notas para saberem o conteúdo dela. Após algum tempo uma cópia, possivelmente vinda de Nürnberg, chegou às mãos de Melanchton.[48]
            A Confutação aceitou expressa e completamente os artigos 1, 3, 8, 9, 16, 17, 18 e 19. Foram aceitos em parte, com adição dos dogmas especificamente romanos do pecado original, do mérito das boas obras, da satisfação e das disposições canônicas e da insuficiência da fé para a justificação os artigos 2, 4, 5, 6, 10, 11, 12, 13, 14 e 15. Foram rejeitados completamente os artigos 7, 20 e 21, como também a segunda parte da Confissão.[49]
            Os luteranos não aceitaram a Confutação. Melanchthon, juntamente com outros teólogos, preparam uma defesa da Confissão de Augsburgo. Melanchthon trabalhou arduamente e, em setembro de 1530, apresentou uma versão em latim ao imperador. A princípio o imperador estava disposto a recebe-la, mas, a conselho de seu irmão Fernando, ele não a recebeu e disse que os luteranos haviam sido refutados na Confutação.[50]
            Em fins de abril ou maio de 1531 a Apologia foi publicada em latim. Pouco depois também em alemão. Ela é bem mais elaborada que a Confissão e se destaca pela erudição. Ela é defesa e explanação da Confissão de Augsburgo. A Apologia é importante porque confessa Jesus Cristo e expõe a fé cristã conforme os luteranos a ensinam.[51]
           
3 APOLOGIA DA CONFISSÃO DE AUGSBURGO

3.1 Contrição: Obra de Deus pela Lei        
             
                A Apologia da Confissão de Augsburgo define que a contrição são “terrores verdadeiros de consciência, que sente Deus estar irado com o pecado e se dói por haver pecado”.[52] A contrição revela que o homem está sob a ira divina e que jamais poderá amar a Deus nesse estado[53] e reflete a condição humana à luz dos Dez Mandamentos.[54] A contrição sempre é passiva, passiva contrittio, pois é obra de Deus. É Deus que, pela sua lei, aponta o pecado ao pecador. Ela não é um remorso artificial, causado por uma contrição ativa, activa contrittio, isto é, produzida pelo homem, baseado nas diretrizes humanas, mas uma contrição passiva que verdadeiramente causa pesar e sofrimento e medo da morte.[55] Deus é a causa ativa da contrição e não o objeto[56], ou seja, não é o arrependimento que tem por objetivo alcançar o perdão. Os confessores enfatizaram que a contrição não é uma disposição para a graça, pois o ser humano não pode produzir genuína contrição em si mesmo, apenas a recebe. Isso foi de encontro e contra a falsa ideia de Roma que dizia que o homem tinha poderes para genuinamente arrepender-se de seus pecados.[57] A atrição é questionada e condenada pelos confessores.
            Lutero nos Artigos de Esmalcalde diz que a Lei é o raio de Deus, com que destrói tanto os pecadores manifestos como os falsos santos e não reconhece razão a ninguém, levando todos ao terror e desalento.[58]

3.2 Fé: Obra de Deus pelo Evangelho ou Absolvição

            Pelo Evangelho Deus concede à absolvição ao pecador. Deus suscita à fé que se apropria da promessa. A Apologia mostra que a segunda parte do arrependimento é a fé em Cristo gerada pelo Evangelho. Evangelho que promete gratuitamente a remissão dos pecados por causa de Cristo. A Absolvição, que é a verdadeira voz do Evangelho, o Ofício das Chaves em uso, exibe e dá o Evangelho, a remissão dos pecados. Pela Absolvição, a fé é dada e alimentada porque “a fé vem pelo ouvir” (Rm 10.17). Através do absolvedor e pastor, o pecador contrito pela Lei confessa sua culpa e recebe em fé o perdão no Evangelho. Ouvido o Evangelho, ouvida a absolvição, erige-se a consciência do pecador e esse recebe consolo.[59]
            Lutero afirma que após o ofício da Lei deve-se acrescentar imediatamente, através do Evangelho, a consoladora promessa da graça em Cristo, na qual o pecador vai crer, como Jesus mostra em Marcos 1: “Arrependei-vos e crede no Evangelho”.[60]

3.3 Satisfação: Obra de Cristo

            A teologia de Roma, como exposto, colocava a satisfação humana pelo pecado como terceira parte da penitência. A Apologia condena totalmente esse pensamento e deixa claro, de acordo com a Escritura, que Cristo é a única satisfação pelos pecados e que Ele livra os pecadores da morte eterna. A morte de Cristo é a satisfação por toda a culpa, por toda pena temporal e eterna e por todo o castigo.[61] Não há nada que o ser humano possa fazer com suas obras. Aliás, como deixa claro a Apologia, as obras impostas pela igreja não eram obras ordenadas por Deus, mas inventadas por homens.[62]
            Lutero afirma que satisfação não é obra do ser humano, pois só Cristo faz. Não basta ensinar que Deus quer castigar o pecado, é preciso ensinar que Deus quer perdoar o pecado por causa de Cristo. Arrependimento (contrição) e fé devem andar de mãos dadas, pois arrependimento sem fé é desespero e é impossível que haja fé sem arrependimento. É preciso ensinar ao povo o fato de Deus ter tamanho ódio pelo pecado que ninguém pode satisfazer a ira de Deus a não ser Cristo Jesus. E com o Evangelho se estimular a fé. Embora o ser humano não mereça senão a condenação, Deus o perdoa sem méritos, por causa da obra de Cristo. Isso é satisfação. Pois, por meio da fé se alcança perdão dos pecados, quando se crê que Cristo fez satisfação pelos pecadores, como está escrito em 1 João: “Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos pecados do mundo inteiro”.[63]
           
3.4 Relação do Artigo XII com os Sacramentos

            Lutero, por algum tempo, considerou à penitência como um sacramento, depois, porém, rejeitou essa ideia porque falta o elemento externo à penitência. Melanchthon, na Apologia considera a penitência como sacramento.[64] Os luteranos definem, porém, apenas dois sacramentos.
            O artigo XII da Confissão de Augsburgo está intimamente ligado ao sacramento do Batismo e da Santa Ceia. Com isso, o arrependimento deixa de estar sob a ação do homem – como na teologia católica – e passa a estar totalmente ancorada nos meios da graça. Schlink diz que “o arrependimento diário através da contrição sob a Lei e através da fé no Evangelho é um diário retorno ao batismo e uma diária aproximação da Ceia do Senhor”.[65]
            Lutero trata da relação do arrependimento com o sacramento do Batismo no seu Catecismo Maior. Para ele, o chamado “terceiro” sacramento nada mais é do que o Batismo. Mesmo que a pessoa caia e peque após o Batismo ele continua válido. Pois o arrependimento não é outra coisa senão atacar o velho homem com seriedade e entrar em uma nova vida. E o viver do arrependimento é andar no Batismo e a ele retornar diariamente. É o afogar o velho homem e o ressurgir do novo que pela fé produz frutos.[66] Esses são os frutos de que fala o artigo 12 da Confissão. São frutos do arrependimento e não a sua causa. Pois o Batismo inicia, promete e produz nova vida.
            Na relação com a Santa Ceia ocorre o mesmo. A Santa Ceia é o Evangelho visível. É uma comunhão íntima do Senhor Jesus com o crente. Esta comunhão se dá pelo comer e beber do seu corpo e sangue. O perdão incondicional dado na absolvição é concretizado na Santa Ceia para o crente batizado de uma vez por todas.[67]
            O Batismo, a Santa Ceia e a Absolvição no arrependimento concedem à mesma graça, o mesmo perdão de Cristo. Perdão gratuito e imerecido por causa dos méritos de Jesus. Pela Absolvição o batizado é perdoado e conscientizado do que ele é: batizado. Este é o Evangelho em suas várias formas, porém sempre o mesmo. Pois Deus é exuberantemente rico em sua graça e dá conselho e ajuda contra o pecado não só de uma maneira, mas na Palavra falada do Evangelho, no Batismo, na Ceia e na Absolvição.[68]

 CONCLUSÃO

            O presente trabalho apresentou o conceito de arrependimento para a teologia de Roma e o arrependimento conforme entendido e ensinado pelos teólogos de Wittenberg. Através dos argumentos apresentados, procurou-se deixar claro que para estes o arrependimento é obra exclusiva de Deus por meio de Lei e Evangelho e não uma obra antropocêntrica como para aqueles. O artigo 4, da justiça da fé, ensina que o ser humano é justo diante de Deus, pela graça, por causa de Cristo. O homem não é justo por suas obras ou méritos. Mas pela obra de Jesus, realizada fora do ser humano e sem a sua participação. Todos os outros artigos da Confissão estão ligados a esse artigo e dependem dele. No arrependimento como obra de Deus, o ser humano sempre tem acesso ao perdão de Cristo. Pois o perdão foi conquistado para todos e pode ser declarado e oferecido para todos. O perdão dos pecados foi obtido por Jesus. O ser humano apenas o recebe pela fé.
            O arrependimento de acordo com a Escritura e conforme ensinado pela Confissão e Apologia consiste em duas partes: contrição e fé. Pela Lei, Deus leva o ser humano à contrição e pelo Evangelho perdoa e consola o coração. E suas promessas somente podem ser recebidas pela fé. O trabalho procurou deixar evidente que o artigo 12 ensina que o arrependimento não tem início no homem, é obra própria de Deus através de sua Palavra.

Monografia de César Augusto Delgado para a disciplina de Documentos Confessionais da Reforma. Teologia ULBRA. Orientada e aprovada por: Professor Dr. Clóvis Jair Prunzel.

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[1] Na Teologia Católica, Penitência designa o Sacramento, ou seja, o ato de satisfação imposto pelo sacerdote e a atitude interna de arrependimento. Sendo, então, sinônimo de arrependimento.
[2] HÄGGLUND, Bengt. História da Teologia. Porto Alegre: Concórdia, 1981, p. 89-91.
[3] Ibidem, p. 111.
[4] Ibidem, p. 139.
[5] HÄGGLUND, Bengt, Op. Cit., 151-2.
[6] Ibidem, p. 153.
[7] Idem, p. 162.
[8] Idem, ibidem.
[9] HÄGGLUND, Bengt, Op. Cit., p. 162.
[10] WARTH, Martim C. A Justificação pela Fé no Artigo IV da Apologia da Confissão de Augsburgo. Porto Alegre: Concórdia, 1983, p. 19.
[11] HÄGGLUND, Bengt, Op. Cit., p. 136.
[12] Ibidem, p. 137.
[13] WALKER, Williston, Op. Cit., p. 347.
[14] KNOWLES, David. OBLENSKI, Dimitri. Nova História da Igreja. A Idade Média. Petrópolis: Vozes. V. 2. 1983, p. 140.
[15] GRANE, Leif. The Augsburg Confession. A Commentary. Minneapolis, Augsburg, 1987, p. 135. 
[16] Nota rodapé 118. Livro de Concórdia. As Confissões da Igreja Evangélica Luterana. Trad. Arnaldo Schüler. São Leopoldo: Editora Sinodal/Porto Alegre: Editora Concórdia, 1980, p. 122.
[17] GASSMANN, Günther; HENDRIX, Scott. As Confissões Luteranas: Introdução. São Leopoldo: Sinodal, 2002, p. 98.
[18] WALKER, Williston, Op. Cit., p. 345.
[19] GASSMANN, Günther; HENDRIX, Scott, Op. Cit., p. 99.
[20] Idem.
[21] HÄGGLUND, Bengt, Op. Cit., p. 165.
[22] HÄGGLUND, Bengt, Op. Cit., p. 164.
[23] WALKER, Williston, Op. Cit., p. 348.
[24] GASSMANN, Günther; HENDRIX, Scott, Op. Cit., p. 98.
[25] HÄGGLUND, Bengt, Op. Cit., p. 171.
[26] WATSON, Philip S. Deixa Deus ser Deus. Paulo Flor, trad. Canoas: Editora da ULBRA, 2005. p. 33-4.
[27] GASSMANN, Günther; HENDRIX, Scott, Op. Cit., p. 99.
[28] MELANCHTHON, Felipe. Apologia da Confissão, § 4,5,6. In: Livro de Concórdia. São Leopoldo: Sinodal. Porto Alegre: Concórdia, 1983, p. 193.
[29] WATSON, Philip S, Op. Cit., p. 34-5.
[30] Ibidem, p. 37-8.
[31] PRUNZEL, Clóvis Jair, Op. Cit., p. 60.
[32] SPITZ, Lewis. The Protestant Reformation. 1517-1519. Saint Louis: Concordia Publishing House, 2001, p. 76
[33] LUTERO, Martinho. Do Cativeiro Babilônico da Igreja. In: Obras Selecionadas. O Programa da Reforma. Escritos de 1520. Porto Alegre: Editora Concórdia e São Leopoldo: Editora Sinodal, 1989, V. 2. p. 342
[34] LUTERO, Martinho. Visitação. In: Obras Selecionadas. Vida em Comunidade: Comunidade, Ministério, Culto, Sacramentos, Visitação, Catecismos, Hinos. Porto Alegre: Editora Concórdia e São Leopoldo: Editora Sinodal, 2000, V. 7, p.  288-9.
[35] SEIBERT, Erní W. Introdução às Confissões Luteranas. Sua Atualidade e Relevância. Porto Alegre: Concórdia, 2000, p. 28.
[36] PRUNZEL, Clóvis Jair. Documentos Confessionais Da Reforma. Canoas: Editora da ULBRA, 2015, p. 84-5.
[37] MELANCHTHON, Felipe. Confissão de Augsburgo. In: Livro de Concórdia. São Leopoldo: Sinodal. Porto Alegre: Concórdia, 1983, p. 33.
[38] PRUNZEL, Clóvis Jair, Op. Cit., p. 143.
[39] SCHLINK, Edmund. Theology of the Lutheran Confessions. Philadelphia: Fortress Press, 1978, p. 141.
[40] MAURER, Wilhelm. Historical Commentary on the Augsburg Confession. Fortpress, Philadelphia, 1986, p. 411.
[41] SEIBERT, Erní W, Op. Cit., p. 56-7.
[42] PRUNZEL, Clóvis Jair, Op. Cit., p. 87.
[43] Ibidem, p. 90.
[44] Ibidem, p. 91.
[45] Ibidem, p. 92.
[46] SEIBERT, Erní W, Op. Cit., p. 55
[47] SEIBERT, Erní W, Op. Cit., p. 31.
[48] Idem.
[49] Idem, ibidem, p. 33.
[50] Idem, ibidem, p. 32.
[51] Idem.
[52] MELANCHTHON, Felipe. Apologia da Confissão, § 29. In: Livro de Concórdia. São Leopoldo: Sinodal. Porto Alegre: Concórdia, 1983, p. 196.
[53] Idem.
[54] SCHLINK, Edmund, Op. Cit., p. 141.
[55] FAGERBERG, Holsten. A New Look at the Lutheran Confessions (1529-1537). St. Louis: Concordia, 1972, p. 209
[56] Idem.
[57] Idem, ibidem, p. 213.
[58] LUTERO, Martinho. Os Artigos de Esmalcalde. III arrependimento § 2. In: Livro de Concórdia. São Leopoldo: Sinodal. Porto Alegre: Concórdia, 1983, p. 325.
[59] MELANCHTHON, Felipe. Apologia da Confissão, § 35-43. In: Livro de Concórdia. São Leopoldo: Sinodal. Porto Alegre: Concórdia, 1983, p. 196-7.
[60] LUTERO, Martinho. Os Artigos de Esmalcalde. III arrependimento § 4. In: Livro de Concórdia. São Leopoldo: Sinodal. Porto Alegre: Concórdia, 1983, p. 325.
[61] MELANCHTHON, Felipe. Apologia da Confissão, § 140-1. In: Livro de Concórdia. São Leopoldo: Sinodal. Porto Alegre: Concórdia, 1983, p. 215.
[62] Idem.
[63] LUTERO, Martinho. Visitação. In: Obras Selecionadas. Vida em Comunidade: Comunidade, Ministério, Culto, Sacramentos, Visitação, Catecismos, Hinos. Porto Alegre: Editora Concórdia e São Leopoldo: Editora Sinodal, 2000, V. 7, p. 291-2.
[64] MELANCHTHON, Felipe. Apologia da Confissão, § 41. In: Livro de Concórdia. São Leopoldo: Sinodal. Porto Alegre: Concórdia, 1983, p. 197.
[65] SCHLINK, Edmund, Op. Cit., p. 141.
[66] LUTERO, Martinho. Catecismo Maior, 4ª parte Batismo, § 74-86. In: Livro de Concórdia. São Leopoldo: Sinodal. Porto Alegre: Concórdia, 1983, p. 484-5.
[67] SCHLINK, Edmund, Op. Cit., p. 144.
[68] LUTERO, Martinho. Os Artigos de Esmalcalde. IV. Do evangelho. In: Livro de Concórdia. São Leopoldo: Sinodal. Porto Alegre: Concórdia, 1983, p. 332.